Já alguma vez sentiste aquela vontade de desligar o telefone a meio de uma conversa?

Tu, entusiasmado, dizes que o céu estrelado de ontem estava absolutamente deslumbrante, e do outro lado ouves um frio "os mosquitos eram mais que muitos". Ficas maravilhado com a vastidão do mar, ele responde "sabes quantas pessoas se afogam todos os anos?". Esta conversa não é uma questão de gostos diferentes — tu gostas de ler, ele gosta de fazer caminhadas, isso são apenas preferências. O que realmente sufoca é quando a lógica de base com que se vê o mundo está completamente desalinhada.

A regra de convivência dos adultos é simples: filtrar, não educar. O preconceito é uma montanha — não tens obrigação de ser o Sísifo.

Trazendo esta lógica para o mundo do trading, faz logo sentido.

Há quem se fascine pelo risco de apanhar o fundo, outros só confiam na segurança de seguir a tendência — isto não são divergências de valores, no máximo são preferências de abordagem. Tu geres a posição para estabilidade, ele aposta tudo à procura do tudo ou nada — é só uma diferença de tolerância ao risco. Mas se falarmos destas coisas —

Tu tratas a gestão de risco como prioridade, ele acha que só tem coragem quem aguenta a posição até ao fim. Defendes que o stop loss é uma regra de ouro para proteger o capital, ele chama-te cobarde por isso. Procuras padrões de probabilidade na análise dos gráficos, ele acredita que o mercado é só manipulação dos grandes. Tu confias na disciplina e na revisão das operações, ele vai pelo instinto e pelos rumores — aqui está o verdadeiro fosso cognitivo do mundo da negociação.

E o melhor (ou pior) ainda está para vir: tu, por cumprires a disciplina, perdes uma subida mas dormes descansado; ele, quando perde uma oportunidade, culpa o mercado e toda a gente por não o deixar enriquecer. Com uma perda flutuante de 10% na conta, tu aceitas como uma correção normal e manténs, ele entra em pânico, vende no prejuízo e depois volta a comprar em alta. Tu dizes que lucrar depende de conhecimento e de um sistema em evolução, ele acredita que é tudo uma questão de ter as melhores informações.

No trading, a verdadeira incompatibilidade não está em que indicadores usas ou quanto arriscas, mas numa compreensão fundamentalmente diferente sobre a natureza do mercado, e num abismo de maturidade psicológica nas operações.

A esse tipo de pessoas, o mercado encarrega-se de ensinar.