Sete anos atrás, a Apple realizou uma movimentação financeira que superou sua maior criação. Em abril de 2017, a Apple inaugurou o Apple Park, seu campus de US$5 bilhões em Cupertino, Califórnia. Um ano depois, em maio de 2018, anunciou um programa de recompra de ações de US$100 bilhões — vinte vezes o valor investido em sua sede de 360 acres, conhecida como “nave espacial”. Foi o recado da Apple ao mundo: havia outro produto tão relevante quanto, ou até mais, que o iPhone.
Naquele momento, era o maior programa de recompra já anunciado, início de uma década em que a Apple gastaria mais de US$725 bilhões recomprando suas próprias ações. Exatamente seis anos depois, em maio de 2024, a fabricante do iPhone superou o próprio recorde ao anunciar um programa de recompra de US$110 bilhões. Mostrou como criar escassez não só em dispositivos, mas também no próprio equity.
No segmento cripto, a estratégia é similar — só que mais rápida e em escala maior.
Dois dos principais motores de receita — Hyperliquid, uma exchange de futuros perpétuos, e Pump.fun, plataforma de lançamento de memecoin — estão reinvestindo praticamente cada dólar das taxas para recomprar seus próprios tokens.
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Mais de 90% das taxas recordes de US$106 milhões da Hyperliquid em agosto foram direcionadas para recomprar tokens HYPE no mercado aberto. A pump.fun chegou a superar temporariamente a receita diária da Hyperliquid, arrecadando US$3,38 milhões em apenas um dia de setembro. O destino do dinheiro? 100% voltado à recompra de tokens PUMP — e isso já acontece há mais de dois meses.
Esse comportamento faz com que tokens se pareçam com procurações de acionistas — raro em cripto, onde normalmente os ativos são despejados nos investidores ao menor sinal.
Isso replica a estratégia dos dividend aristocrats de Wall Street — Apple, Procter & Gamble, Coca-Cola — que há décadas recompensam acionistas com dividendos em dinheiro ou recompras de ações. Em 2024, a Apple gastou US$104 bilhões em recompra, cerca de 3-4% do valor de mercado da época devolvido aos investidores. Compare com o offset de suprimento de 9% da Hyperliquid.
Mesmo para padrões de equity, esses números são impressionantes. No universo cripto, são inéditos.
A proposta da Hyperliquid é simples.
Construiu uma exchange descentralizada de futuros perpétuos, tão eficiente quanto uma centralizada (pense na Binance), mas 100% on-chain. Zero taxas de gás, alta alavancagem e uma L1 focada em perps. Em meados de 2025, já gerava mais de US$400 bilhões em volume mensal de negociação e controlava aproximadamente 70% do mercado perpétuo DeFi.
Diferencial da Hyperliquid: o uso do dinheiro.
Diariamente, mais de 90 centavos de cada dólar em taxas vão para o chamado Fundo de Assistência, que é usado para comprar HYPE no mercado aberto.
No momento desta publicação, o fundo acumulava mais de 31,61 milhões de tokens HYPE, equivalentes a cerca de US$1,4 bilhão — dez vezes mais do que os três milhões de tokens do início do ano.
O programa de recompra retirou cerca de 9% do suprimento circulante, levando o preço do token HYPE a US$60, pico registrado em setembro.
Já a pump.fun reduziu o suprimento em cerca de 7,5% com recompras.
A plataforma transformou o hype das memecoins em modelo de negócio com taxas baixíssimas. Qualquer um pode lançar token, ativar a bonding curve e deixar o público impulsionar o ativo. O que começou como brincadeira virou fábrica de ativos especulativos.
Mas há instabilidade.
A receita é cíclica, ligada ao tráfego de lançamentos de memecoins. Em julho, a receita caiu para US$17,11 milhões, menor valor desde abril de 2024, impactando as recompras. Em agosto, o número voltou a subir para US$41,05 milhões.
A dúvida sobre sustentabilidade permanece. Quando o hype das memes esfria, como já aconteceu e acontecerá, os burns de tokens diminuem. No horizonte, há um processo de US$5,5 bilhões alegando que tudo se assemelha a jogo de azar sem licença.
O que impulsiona Hyperliquid e pump.fun é a disposição de devolver à comunidade.
Em alguns anos, a Apple devolveu quase 90% do lucro aos acionistas com recompras e dividendos. Mas são decisões pontuais, anunciadas em blocos. Hyperliquid e Pump.fun reciclam quase toda a receita para detentores de tokens de forma contínua, diariamente.
Claro: não são equivalentes. O dividendo é dinheiro imediato, tributável e confiável. A recompra, no máximo, sustenta o preço — inútil se a receita cai ou unlocks superam o consumo. Hyperliquid encara o teste com os vestings iminentes. Pump.fun, sempre que o público de memecoins migra. Comparado aos 63 anos de dividendos crescentes da Johnson & Johnson 63 anos de aumentos de dividendos ou às recompras consistentes da Apple, são apostas altas.
Talvez isso seja natural.
Cripto ainda amadurece e busca consistência. Por ora, encontrou velocidade. Recompras aceleram: são flexíveis, eficientes em impostos, deflacionárias — alinhadas ao mercado especulativo. Até agora, transformaram dois projetos distintos em máquinas de receita.
Resta descobrir se isso será sustentável no longo prazo. Mas já é fato: pela primeira vez, tokens deixaram de parecer fichas de cassino e passaram a se comportar como ações de empresas que devolvem valor em ritmo capaz de desafiar até a Apple.
Há uma lição maior. A Apple percebeu isso antes: não vende apenas iPhones, mas também ações. Desde 2012, gastou quase US$1 trilhão em recompras — mais que o PIB de muitos países — e reduziu o float em mais de 40%.
O valor de mercado segue acima de US$3,8 trilhões, em parte porque a Apple trata seu equity como produto: é promovido, refinado e escasso. Não precisa emitir mais ações para captar recursos; o balanço é robusto. As ações viram produto, acionistas viram clientes.
A mesma estratégia chegou à cripto.
Hyperliquid e pump.fun dominam o truque: usam o dinheiro gerado para criar pressão de compra sobre a própria equity, em vez de reinvestir ou acumular.
Isso muda a percepção do investidor.
Vendas do iPhone importam, mas quem aposta na Apple sabe que há outro motor: escassez. Com HYPE e PUMP, traders começam a enxergar tokens assim. O que veem são ativos respaldados pela promessa de que cada gasto ou trade tem mais de 95% de chance de virar recompra e burn.
A Apple mostra o outro lado.
Recompras só sobrevivem com fluxos de caixa robustos. Se a receita cair — se vendas de iPhone ou MacBook desaceleram —, a Apple pode emitir dívida e honrar a recompra. Hyperliquid e pump.fun não têm esse espaço. Se o volume secar, as recompras param. E, ao contrário da Apple, que pode recorrer a dividendos, serviços ou novos produtos, esses protocolos ainda buscam alternativas.
No setor cripto, há o risco de diluição.
A Apple não teme 200 milhões de novas ações no mercado de uma vez. Hyperliquid sim. A partir de novembro, cerca de US$12 bilhões em HYPE vão começar a ser liberados para insiders, superando as recompras diárias.
A Apple controla o float; protocolos cripto enfrentam calendários de vesting definidos anos antes.
Ainda assim, investidores querem fazer parte dessa história. O modelo Apple é facilmente reconhecível, especialmente para quem conhece sua trajetória. A Apple fidelizou acionistas ao transformar equity em produto financeiro. Hyperliquid e pump.fun tentam trilhar esse caminho na cripto — só que mais rápido, barulhento e arriscado.
Esse foi o mergulho profundo da semana.
Até a próxima.
Enquanto isso... siga curioso,
Prathik