Há uns dias vi uma análise bastante inquietante; quanto mais penso nela, mais desconfortável fico.

A lógica central é a seguinte: o Japão pode estar prestes a iniciar oficialmente o ciclo de subida das taxas de juro. Parece que não tem nada a ver connosco? Na verdade, tem tudo a ver.

Nos últimos quinze anos, o Banco do Japão manteve as taxas de juro perto de zero, tendo até implementado taxas negativas. O que é que isto significa? Pedir dinheiro emprestado praticamente não custa nada. Assim, o pessoal de Wall Street aproveitou ao máximo – pediam grandes quantias emprestadas a baixíssimo custo no Japão e depois investiam em ações americanas, obrigações, imobiliário e, claro, também no mercado cripto. Desde que o retorno fosse superior ao custo do empréstimo, era lucro garantido.

Este tipo de operação tem um nome técnico: “carry trade do iene”. Ao longo destes anos, as subidas das bolsas americanas e do mercado cripto tiveram sempre este fluxo de capital a impulsioná-las.

Mas agora o enredo pode estar prestes a inverter.

Assim que o Japão subir as taxas, o custo de pedir dinheiro aumenta e a margem para arbitragem desaparece. E o que fazem esses fundos que estão “a trabalhar lá fora”? Ou fecham posições, ou regressam ao país de origem. Ficar investido já não compensa.

O resultado? Liquidez seca. Sem dinheiro a entrar, o mercado não se aguenta.

Vê ontem: o ETH caiu diretamente dos $3000 para pouco acima dos $2700, uma queda de 10% num só dia. Isto pode não ser apenas uma correção técnica; parece mais ser um sinal: o dinheiro está a ser retirado, e mais depressa do que se imagina.

Se esta lógica estiver correta, então talvez seja melhor preparar-nos para uma maratona. Os mercados em baixa nunca avisam antes de chegar.